domingo, 30 de setembro de 2012

PARA REFLETIR...



TUDO QUE VICIA COMEÇA COM "C"
Luiz Fernando Veríssimo

 Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios.
...
Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei,pensei e,de repente, um insight: tudo que vicia começa com a letra C!

De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê.

Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaína, crack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê.

Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café,mas não deixam de tomar seu chimarrão que também - adivinha ? - começa com a letra c.

Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insight finalmente revelara a resposta. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum.

Impressionante, hein?

E o computador e o chocolate? Estes dispensam comentários. Os vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana.

Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada "créeeeeeu". Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade? cinco.

Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o ato sexual e este é denominado coito.

Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada em Cultura.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


A UMBANDA E SUAS CLASSES DE ENTENDIMENTO

Pai da Matta (ao centro) em palestra na T.U.O. - década de 70



No texto abaixo, veremos a transcrição do trecho de uma  interessante conversa havida entre um pesquisador e um 'preto-velho' - mediunicamente manifestado em W.W. da Matta e Silva:

Cícero: - Oh! Sábio “preto-velho”, como se qualificam, no panorama de tantos e tantos “terreiros”, as modalidades de “umbandas” existentes? Essa lei, essa corrente, esse movimento não obedece a diretrizes ou regras de cima para baixo?

Preto-velho: - Sim... Boa pergunta você me fez, oh! Filho esperto... Neste panorama umbandista, você pode identificar, com a maior facilidade, três classes de umbandas praticadas...

A PRIMEIRA CLASSE é a que engloba o maior número de agrupamentos ou terreiros. Está puramente construída pelos seres humanos. É essa mescla rudimentar, confusa de cada um fazer o seu “terreiro”, seu ritual, segundo o seu entendimento ou a sua “sabedoria” sobre Umbanda, sabedoria essa baseada exclusivamente, no que viu e ouviu em outros “terreiros” similares, onde predomina o sincretismo afro-católico.

Esses ambientes nos dão muito trabalho de fiscalização astral – de cima – pois estão fortemente influenciados pelo baixo mundo astral. Nesses agrupamentos, a doutrina é quase inexistente. De Evangelho, quando alguém lhes fala, bocejam de tédio e indiferença. Não há quem faça a adaptação desses evangelhos a seus entendimentos, levando em conta seus estados de consciência – de ignorância dessas coisas; mas o incremento da luz prossegue, por baixo e por cima, firme e serenamente, enquanto eles se ocupam mais em tocar seus tambores e bater suas palmas.

A SEGUNDA CLASSE vem com menos volume de agrupamentos e se prende àqueles que são mais elevados, mais simples; desejam praticar Umbanda, pautada nos ensinamentos evangélicos, no que eles revelam de mais necessário. Para isso, apelam para a corrente dos “caboclos” e “pretos-velhos” a fim de ajudá-los nesse mister. Fazem um ritual suave, sem palavras, sem tambores. Aproveitam a força e a beleza de certos pontos cantados ou hinos, que sabem serem de raiz.

Esse é um dos aspectos que aprovamos, dada a sinceridade de propósitos, desde que não saiam da faixa religiosa, doutrinária e mesmo de certa cautela com o lado fenomênico.

Assim, procuramos com paciência e até mesmo tentamos localizar algum possível aparelho ou veículo mediúnico e, por ele, fazer positivas incorporações para estabelecermos os Princípios ou Regras da Umbanda na teoria e na prática.

A TERCEIRA CLASSE, com uma quantidade mínima de agrupamento, é a que se identifica com Ordens e Direitos de Trabalho. Isso acontece quando temos ordem para agir sobre um legítimo aparelho ou médium. Aí, imediatamente estabelecemos esses citados Princípios ou Regras da Umbanda, a par com a caridade que vamos praticando. Esse é o único aspecto ou classe capacitada a movimentar a terapêutica dita como natural e astral, dentro da magia positiva, sempre para o Bem comum e que se firma nos verdadeiros sinais riscados e já classificados como Lei de Pemba e sobre os quais voltarei a falar.

Agora, devo frisar o seguinte: o nosso contato – dos Guias e Protetores – com esses médiuns e aparelhos-positivos não se dá exclusivamente por via

incorporativa. Fazemos e assistimos também, pelos que têm vidência, intuição, audição e gostamos muito de o fazer pelos de mediunidade sensitiva, os únicos que não podem ser enganados ou mistificados.

Cícero: -Desculpe, Pai-preto, queira repisar mais esta lição porque, em todos os aspectos ou classes, tenho visto coisas relacionadas com a magia. Em todas assisti riscarem pembas dessa ou daquela forma.

Preto-velho: -Bem, “zi-cerô”, isso quer dizer que você anotou com segurança as três discriminações que fiz. Pois é claro que essa primeira classe é a que mais trabalho nos dá, devido ao seu volume, quantitativo e qualitativo. Nela, os filhos, levados pela justa tendência de suas finalidades, entram na corrente de Umbanda ou resolvem fazer “umbanda”.

Até aí, tudo certo, mas logo decidem praticar “magia de encenação”, através do que têm visto fazer sob a forma de grosseiras oferendas e sacrifícios que envolvem e atraem forças do astral inferior, que passam então a dominá-los, visto eles não terem o conhecimento certo dessascoisas, mormente quando riscam pembas (por impulsos), desconhecendo completamente a expressão mágica dos verdadeiros sinais riscados, causando assim, plena confusão de sinais ou signos, idêntica confusão na corrente mental e astral que por força de tudo isso está formada ou se forma, devido às atrações ou afinidades que vão imperar.

Na segunda classe, mesmo dentro da sinceridade, dos bons propósitos, contando até com filhos estudiosos, muitos egressos de outras correntes e religiões, são inúmeros os filhos que de repente se empolgam e fogem do âmbito religioso, doutrinário, começando também a praticar certos atos que pretendem ser de magia, por conta própria, embora em plano mais suave que os primeiros. Ora, se eles não estão ordenados ou mesmo capacitados para tal fim, se eles não têm o conhecimento que o assunto requer e ainda sem o beneplácito ou a garantia dos Guias e Protetores, para isso, o que pode acontecer? São logo envolvidos pelas forças relacionadas e invocadas que, não encontrando elementos de garantia, neles, tomam o campo, incentivam-lhes a vaidade latente, dessa ou daquela forma, atacam um ponto fraco qualquer...e... lá vem mais atividade para nós, mais fiscalização etc.

Em pouco tempo esses bons filhos criam o seu “cascãozinho”, que enrijece tanto, a ponto de vedar seu consciente à luz da humildade imprescindível ao bom umbandista.

Oh! Eterna vaidade, filha da ignorância!!! Até quando persistirás no inconsciente das criaturas, retardando sua evolução?

Cícero: - E a terceira classe, preto-velho, também dá trabalho?

Preto-velho: - Claro, “zi-cerô”. Infelizmente, muitos, dentro das prerrogativas do livre-arbítrio, também se extraviam.

E como já falei das condições negativas que existem ou que atuam, quer na primeira classe, quer na segunda, devo, embora com tristeza, citar que, nessa terceira classe, acontecem também graves fracassos, com esses aparelhos que recebem Ordens e Direitos de Trabalho...

Esses aparelhos (ou médiuns), meu filho, quando se extraviam ou, melhor, quando baqueiam, quase sempre acontece por causas morais. Não vou esmiuçar essas causas... Apenas afirmo que esses são os que mais sofrem – depois da borrasca. Sofrem dolorosamente, porque os seus dramas morais mediúnicos são relembrados por eles a todo instante, ativados pelo remorso e, especialmente, quando reconhecem, conscientemente, que perderam os contatos positivos de seus antigos Guias e Protetores.

Eles – que foram médiuns de fato – lutam desesperadamente para reaver os fluidos perdidos, isto é, a proteção de seu caboclo ou preto-velho, etc... No entanto, nada...

Então, dá-se um fenômeno curioso, que confunde a eles mesmos ou, melhor, os martirizam mais ainda, porque os deixam sempre nas eternas dúvidas. É o seguinte: -das antigas incorporações positivas, precisas, ficou, não resta dúvida mesmo, uma série de reflexos psíquicos condicionados ou de neuro-sensibilidade.

Esses reflexos neuropsíquicos ficaram impressos em seus centros nervosos ou sensitivos, no grupo de células que mais receberam a influência ou a ligação desses citados e antigos contatos mediúnicos e de seus protetores. Daí, sempre que, por um processo de associação mental ou psíquica, quando pela concentração ou mentalização, esse grupo de células revive ou externa seus reflexos ou as impressões sensoriais que guardou dos ditos antigos contados vibratórios que, realmente, recebiam de uma Entidade. Assim é que os pobres “médiuns” pensam, por via disso, que ainda têm os fluidos do “caboclo ou do preto-velho”...

Porém, eles sentem que a coisa se reflete – mas não é tal e qual era. Até pensam que estão apenas com a “mediunidade enfraquecida”... E haja preceitos e haja velas para o Anjo de Guarda... Coitados... Terríveis dilemas os assaltam. Dúvidas cruciais os atormentam... Será mesmo ou não?

Assim, quase sempre, dentro de duríssimas vaidades ou de um amor-próprio sem razão, vão imitando, pela prática ou por via desses citados reflexos psíquicos condicionados, o modo de apresentação das entidades que os assistiam no passado. Não confessam a ninguém os seus dramas mediúnicos...e acreditam que os outros não percebam o fracasso... Como se enganam!... Os outros já perceberam sim. Chegam até a ironizar deles, comentando: “Fulano é duro não quer dar o braço a torcer”...

E, geralmente, devido às condições em que caíram, entram em distúrbio, isto é, suas antenas mediúnicas que já saíram daquela tônica da antiga positividade, passam a dar contatos com espíritos atrasados e aproveitadores que, por essas antenas irregulares, entram em sintonia. Que fazem esses espíritos atrasados? Passam a influenciá-los, em nome dos protetores tais e tais. Aí é que a coisa toma um aspecto lamentável.

São envolvidos, a vaidade incentivada, etc. Então, passam a ter cismas diversas, desconfianças de toda a ordem, “intuições” atravessadas, fazem consultas erradas, predições falsas, etc. Que fazer? A maioria continua nesse roteiro de incerteza, erros e angústias. Porém, um ou outro consegue reabilitação.

Cai na meditação, na oração, num sincero arrependimento, etc. Recompõem-se na parte moral mediúnica. Entra na faixa da humildade, da tolerância e da compreensão e, certo dia, vê surgir nova aurora espiritual. Surpreso, presa de doce emoção, chorando até, constata a presença viva, atuante, dos verdadeiros contatos mediúnicos dos antigos protetores. Ele foi perdoado e receber a volta deles... Santo Deus! Somente os que passaram por isso sabem dar o valor a essa reintegração mediúnica.

Todavia, “zi-cerô”, não confunda esse caso de médiuns fracassados, com os daqueles que tombam, exaustos pelo entrechoque das lutas astrais e humanas, em defesa de um ideal – numa missão de esclarecimento e de verdade. Esses são amparados, jamais abandonados e curados de suas cicatrizes, para se reerguerem mais fortes do que dantes. Recebem o prêmio pelo esforço despendido, enfim, por todos os sofrimentos que passaram pelas traições e infâmias que perdoaram, quando lhes é dada a verdadeira Iniciação pelo astral e lhes confere o sinal, pelo selo dos Magos que surge na palma de suas mãos, a demonstrar-lhes que, de fato, “somente a verdade ficará de pé”... É filho meu, para que dizer mais?

MATTA E SILVA. W.W. Lições de Umbanda (e Quimbanda) na palavra de um “Preto Velho”. 6ª edição.  Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012



SÁBIOS XAVANTES

"É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal."

Das histórias que pude partilhar na vida e que, vez ou outra, relato nos diálogos, há uma exemplar que, inclusive pude já em 1997 incluir em livro meu antes mencionado (A escola e o conhecimento), embora mais resumidamente.

Em 1974, dois caciques da nação Xavante vieram visitar a cidade de São Paulo. Na época, os xavantes não usavam o dinheiro como meio de qualidade de vida. Para eles, qualidade de vida era alimento, porque era o jeito de garantir sobrevivência.
O avião deles, que vinha de Cuiabá, pousou em Congonhas e eles foram levados ao abrigo da FUNAI, que ficava na Vila Mariana. No dia seguinte, foram convidados a passear. Ficaram boquiabertos com a Avenida Paulista, 2,5 km de catedrais financeiras. Foram levados a andar de metrô, que acabava de ser inaugurado. Ficaram pasmos com a velocidade daquele transporte. Foram levados ao shopping. Havia apenas dois naquela época, hoje são cerca de sessenta. Sabe o que eles não conseguiram entender no shopping e a gente não conseguiu explicar? Por que a gente entrava num lugar cheio de espelho. Eles achavam inacreditável que, num mundo cheio de gente, a gente gostasse de se ver, em vez de ver o outro. Se você estava com você o tempo todo, por que ia querer se ver? Esse excesso de espelho é um símbolo ético também, de certa forma de egonarcisismo, que veio sobre nós.

Nós os levamos também a um lugar magnífico, o Mercado Municipal, na área central. Aquilo é uma espécie de entreposto comercial, imenso, projetado por Ramos de Azevedo, grande arquiteto que fez o Teatro Municipal e a Faculdade de Saúde Pública. E no Mercado Municipal é comida para todo lado. Eles deram dois passos e ficaram pasmos. Pilhas de alface, de tomates, de cenoura, de laranja. Ficaram com o olhar talvez como o nosso olhar ficaria se entrássemos no cofre de um banco. Em certo momento, um deles viu uma coisa que nenhum e nenhuma de nós veria. Ele cutucou e perguntou: "O que ele está fazendo?" E apontou no chão um menino negro, pobre (a gente sabia que era pobre por causa da roupa, ele não saberia) pegando alface pisada, tomate estragado, batata já moída e colocando num saquinho. Nenhum e nenhuma de nós veria aquilo, pois para nós era normal. Normal? Cuidado com o conceito de normal.
Nós falamos: "Ué, ele está pegando comida". O cacique não disse mais nada. Ele continuou andando conosco, mas não prestou atenção em mais nada. Depois de uns 15 minutos, ele falou:

- Eu não entendi. Por que ele está pegando essa comida estragada aqui no chão, se tem essa pilha de comida boa?

- É que para pegar comida dessa pilha aqui precisa de dinheiro.

- E ele não tem dinheiro?

- Não tem.

- Por que não tem dinheiro? - indagava o cacique.

No que ele está cutucando? Na nossa base ética, no nosso valor de vida. A gente acha que criança com fome, mesmo diante de uma pilha de comida boa, pode comer comida estragada. Porque a vida é assim. É normal.

- Ele não tem dinheiro porque ele é criança.

- E o pai dele tem?

- Não, o pai dele não tem.

- Não entendi. Por que você, que é grande, tem e o pai dele, que é grande, não tem? De qual pilha você come, dessa daqui ou a do chão?

- Dessa daqui.

- Por quê?

A única resposta possível para o cacique naquele momento foi a resposta que algumas pessoas que já desistiram dão: "Sabe o que é? É que aqui é assim"...

Os dois índios, diante da resposta, falaram uma coisa de que eu nunca mais esqueci. "Vamos embora." Não é que eles pediram para ir embora do mercado, eles pediram para ir embora de São Paulo. Veja como eles são "selvagens".

Eles não conseguiram compreender essa coisa tão óbvia: que uma criança faminta, diante de uma pilha de comida boa, pega comida podre. Eles não são "civilizados". Sabe como ele passaria batido e nem repararia na cena? Se ele tivesse ido a algumas de nossas escolas, se ele tivesse assistido alguns de nossos meios de comunicação. Aí ele ia achar aquela cena normal.

Neste instante, é bom lembrar que é necessário cuidar da ética porque senão anestesiamos a nossa consciência e começamos a achar tudo normal. 
Vou contar uma coisa que você que é jovem pode não acreditar. Quando eu me mudei para São Paulo, há 37 anos, a gente saía da escola, do trabalho, do bar, andava às 11h da noite sozinho para casa, ouvia passos de outra pessoa e sentia alegria. "Graças a Deus, vem vindo outra pessoa." Sabe do que a gente tinha medo? De defunto. A gente passava longe do muro do cemitério, da parte de trás da igreja. Hoje, você sai às 11h da noite de casa, da escola, do trabalho. da igreja, ouve passos de outra pessoa e teme: "Meu Deus do céu, vem vindo outra pessoa". O que aconteceu? Será que nos distraímos em algum momento e a nossa ética não é a da convivência, mas é a do outro como inimigo? "Ah, mas aqui é assim." Violência? "Aqui é assim. Eu já fui assaltado e agora tenho duas bolsas, uma do ladrão e uma minha. A minha fica debaixo do banco. Eu uso carro blindado."

Claro. Nós vamos criando meios de nos acostumarmos ao normal.

Normal?
...

autor:
Mário Sérgio Cortella
do livro "Qual é tua Obra? - Inquietações propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética"; 6ª Edição, Editora Vozes

segunda-feira, 3 de setembro de 2012



A CURA REAL DAS DOENÇAS

Não trate apenas dos sintomas, tentando eliminá-los sem que a causa da enfermidade seja também extinta. A cura real somente acontece do interior para o exterior. Sim, diga a seu médico que você tem dor no peito, mas diga também que sua dor é dor de tristeza, é dor de angústia.

Conte a seu médico que você tem azia, mas descubra o motivo pelo qual você, com seu gênio, aumenta a produção de ácidos no estômago.

Relate que você tem diabetes, no entanto, não se esqueça de dizer também que não está encontrando mais doçura em sua vida e que está muito difícil suportar o peso de suas frustrações.

Mencione que você sofre de enxaqueca, todavia confesse que padece com seu perfeccionismo,com a autocrítica, que é muito sensível à crítica alheia e demasiadamente ansioso.

Muitos querem se curar, mas poucos estão dispostos a neutralizar em si o ácido da calúnia, o veneno da inveja, o bacilo do pessimismo e o câncer do egoísmo. Não querem mudar de vida. Procuram a cura de um câncer, mas se recusam a abrir mão de uma simples mágoa.

Pretendem a desobstrução das artérias coronárias, mas querem continuar com o peito fechado pelo rancor e pela agressividade.

Almejam a cura de problemas oculares, todavia não retiram dos olhos a venda do criticismo e da maledicência.

Pedem a solução para a depressão, entretanto, não abrem mão do orgulho ferido e do forte sentimento de decepção em relação a perdas experimentadas.

Suplicam auxílio para os problemas de tireoide, mas não cuidam de suas frustrações e ressentimentos, não levantam a voz para expressarem suas legítimas necessidades.

Imploram a cura de um nódulo de mama, todavia, insistem em manter bloqueada a ternura e a afetividade por conta das feridas emocionais do passado.

Clamam pela intercessão divina, porém permanecem surdos aos gritos de socorro que partem de pessoas muito próximas de si mesmos.

Deus nos fala através de mil modos. A enfermidade é um deles e por certo, o principal recado que lhe chega da sabedoria divina é que está faltando mais amor e harmonia em sua vida. Toda cura é sempre uma autocura e o Evangelho de Jesus é a farmácia onde encontraremos os remédios que nos curam por dentro. Há dois mil anos esses remédios estão a nossa disposição. Quando nos decidiremos?

 José Carlos De Lucca
 Do livro: "O Médico Jesus"