segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


O INCRÍVEL CASO DO EXU DAS SETE LIRAS *

* artigo gentilmente cedido por William do Carmo Oliveira (Obashanan), e originalmente publicado no site do Acervo Ayom.

A Mãe de Santo Cacilda de Assis foi um dos médiuns mais polêmicos da história da religião brasileira, graças ao Exu que lhe assistia. Aos 13 anos de idade recebeu pela primeira vez o "Seu" Sete Rei da Lira, o qual foi assentado em 13 de junho de 1938, aos 15 anos, quando Cacilda recebeu sua iniciação de seu Pai, Benedito Galdino do Congo, em Coroa Grande, próximo da conhecidíssima Itacuruçá, no Rio de Janeiro (local onde funcionou um outro importantíssimo terreiro da história das religiões brasileiras). Ela também trabalhava com a Pomba Gira Audara Maria.

Mãe Cacilda de Assis em seu programa de rádio.

O Rei da Lira se apresenta como Exu, muito embora suas características originais o liguem mais ao mundo da encantaria, onde é conhecido como Sete Rei da Lira, José das Sete Liras ou o Rei das Sete Liras. Poucos conhecem a sua história como encantado, que começa na Idade Média e vai até a sua reencarnação no século dezenove. Na Espanha Medieval, havia um casal: Caio e Zelinda. Caio era um descendente de gregos, que tocava e fabricava instrumentos musicais, especialmente liras. Zelinda era uma bela negra africana, que escondida dos poderosos da época, fazia rituais mágicos.

Tiveram um filho chamado José, que era muito inteligente e tocava instrumentos como ninguém. O garoto herdou do pai o gosto para tocar e fabricar liras, das quais construía 7 diferentes modelos. Da mãe herdou os poderes paranormais: curava pessoas doentes, movia objetos com o olhar, tinha sonhos premonitórios, via a aura das pessoas etc. Na adolescência, conta a lenda que o garoto passou a incorporar espíritos enquanto tocava e uma destas almas seria a do bíblico Rei Davi. Por fazer muito sucesso com as mulheres, um marido ciumento entregou-o para os representantes da igreja, acusando José das Sete Liras de bruxaria. Foi queimado na fogueira pela Inquisição.
  
Seu Sete da Lira trabalhando.
A fama do Exu Sete Rei da Lira que baixava em Mãe Cacilda começou a crescer rapidamente devido à característica inusitada de suas giras - onde todo tipo de música poderia ser cantada e tocada - e no uso impressionante da ingestão de vários litros e litros de "marafo", além da roupa ritualística bordada em veludo preto, botas, capas e cartola. Quem presenciou a manifestação deste espírito se impressionou com o magnetismo e com a capacidade de movimentação das pessoas que acorriam ao seu templo, em Santíssimo, um bairro do Rio de Janeiro. Corriam as notícias de boca a boca, dos casos de cura de doenças gravíssimas etc e rapidamente a gira de seu Sete chegou à marca impressionante de mais de cinco mil pessoas por rito.

Compositora e escritora, Mãe Cacilda tinha um programa na Rádio Metropolitana de Inhaúma e o caso é que a fama de seu 7 se espalhou tanto que artistas como Tim Maia, Freddie Mercury e o grupo Kiss estiveram por lá sabe-se lá por qual razão, até que um dia alguém foi até o terreiro e desafiou o Exu a baixar em rede nacional. Ao contrário do que se esperava, o seu Sete concordou e foi aí que o "dendê ferveu"!

 Fotos das milhares de pessoas que acorriam ao templo de seu Sete da Lira. Olhe bem e descubra onde está o Exu!

Eu me lembro bem do fato, pois todo mundo comentou: foi em 1971, eu tinha 5 anos e me é inesquecível o sotaque de uma portuguesa da vila em que eu morava no bairro do bexiga em sampa, agressiva e transtornada, ao comentar: "Um ab'surdo, c'mo deixaram um d'mônio daq'les b'xar no p'grama do Ch'crinha?? Viram o que el' fêx?? A revolta da mulher, católica radical (ainda não existiam os neopentecostais que mais tarde se aproveitariam do mesmo tipo de discurso), era acompanhada de uma credulidade não assumida: "T'do bem, o santo baixou em todo mundo, isso realmente é difícil de explicar, mashhhh..."

Seu Sete da Lira no programa "Flávio Cavalcanti"

Incorporada pelo Exu "Seu" 7 Rei da Lira Cacilda havia transformado os programas de Chacrinha e Flávio Cavalcanti num verdadeiro ritual de Kimbanda, daqueles mais bravos. Não se questiona aqui a veracidade da presença do Exu naqueles momentos, ou se é válido esse tipo de exposição ou de manifestação em público, mas há a verdade inquestionável de que algum poder realmente tomou conta das pessoas naqueles programas, pois platéia, cantores, assistentes de câmera, seguranças, contrarregras e outros entraram em transe, desmaiaram ou foram "mediunizados" por exus e outras entidades.

Inabalável, seu Sete da Lira após "tocar a macumba" no programa de Flávio Cavalcanti, sem desincorporar saiu de carro dos estúdios da TV Tupi acompanhado por seus cambonos e foi até os estúdios da Rede Globo no programa do Chacrinha e nem bem entrou no palco, o mesmo fenômeno aconteceu: Chacretes, músicos, diretores e outros entraram em transe.

O próprio Chacrinha, o rei da caricatura e da esbórnia ficou sem ação, conforme o relato do professor universitário Paulo Duarte: "(...) me causou espanto, assistir, há dias àquele espetáculo de 'Seu Sete', apresentado como se fosse um retrato do Brasil: uma 'mandingueira' de cartola e charuto, espargindo cachaça pela multidão em transe, como um sacerdote o faz com água benta. Um adolescente entrou para colaborar, quando foi 'tomado' diante da Mãe de Santo. Esta, que já bebera em público largos goles de pinga, esborrifou-lhe o rosto com um pouco da bebida, aos efeitos mágicos da qual o moleque voltou à razão em meio ao alvoroço da multidão, sob o patrocínio de um Chacrinha mais inconsciente que legítimo".

Reportagem na revista "Amiga" de 1970, sobre seu 7 da lira (Cortesia do irmão Maleronka!)

Na Censura Federal, centenas de telefonemas de protestos e de narrativas de pessoas que haviam entrado em transe em suas casas entupiram as centrais telefônicas, a Igreja Católica constrangida reuniu sua cúria para debater o problema e a concessão das duas emissoras de TV quase foram suspensas pelo governo, alegando a defesa da "moralidade" e dos "bons costumes".

Na verdade, o que podemos concluir é que a Umbanda e as religiões afrobrasileiras fazem parte de uma parcela do imaginário brasileiro - principalmente a Kimbanda - que se for colocada à mostra em sua totalidade, pode gerar efeitos inesperados no senso comum e padrão das classes sociais e religiosas acomodadas, pois raramente se viu na história da cultura brasileira a religiosidade das classes subalternas manifestar-se de modo tão expontâneo e incontrolável e ainda, em escala nacional, como foi feito pelo Sr. Exu da Lira e só por ele, sozinho!

Pela primeira vez na história do país, cujo Estado e cujas classes dirigentes desfiam ao longo dos tempos uma compreensão e narrativa eurocêntrica sobre si mesmos, a sociedade brasileira se viu obrigada e se olhar no espelho tão profundamente que não aguentou se ver tão frágil e desnuda frente aos efeitos do trabalho de um Exu Guardião. E as reações subsequentes revelaram ainda posicionamentos elitistas arraigados nas velhas estruturas de dominação e da luta de classes no plano das representações simbólicas. Entre o próprio povo do santo a coisa se dividiu: em conversa com nosso querido amigo, o pai Pedro Miranda, esse nos relatou que certas "cúpulas" umbandistas da época recusaram-se a tentar entender o fenômeno "da Lira" e também tentaram abafar o caso...

Uma das últimas fotos de Cacilda de Assis mediunizada... paradeiro????

Mas o evento mais grave e interessante aconteceria longe, no centro do poder: estavam assistindo aos programas o então presidente Médici e sua esposa D. Cyla. Indignado, o general iria tomar algumas "providências" contra Mãe Cacilda, quando, subitamente, ao seu lado, D. Cyla, incorporada, dá uma sonora gargalhada, pede uma rosa, uma champanhe e diz pro presidente não mexer com quem não podia...

Bastidores do Brasil... bastidores da Kimbanda...

Ao sr. Sete Rei da Lira: Mojubá Exu!!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

AH, EU RECOMENDO!


SEGREDOS DA MAGIA DE UMBANDA E QUIMBANDA
W. W. da Matta e Silva (Yapacani)

Muitas pessoas enxergam a Umbanda como um balcão de pedidos, pelo qual desejos entorpecidos pela vaidade e pelo egoísmo são despejados aos pés de Entidades mediunicamente manifestadas, na vã tentativa de estas resolverem “tudo”, à revelia do merecimento e da condição moral do “pedinte”. Entrementes, muitos incautos, quando recebem o devido “NÃO!” de um legítimo preposto do Astral Superior, ainda buscam  resolver a situação por fora, e  querem aprender “feitiços” e “macumbinhas” de fácil execução, para não exporem seus egos doentes ao julgamento ilibado de um Caboclo, Pai-Velho, Criança, ou mesmo um Guardião.

Livros de simpatias, superstições e “magias” são encontrados com enorme facilidade no mercado, e costumam refletir o caráter de quem os escreve. Para nossa satisfação, a maioria das obras que versam sobre rituais de magia negra estão repletas de receituários truncados, e pendem mais para o fetichismo grosseiro do que para a real aplicabilidade magística. Pois é, meus irmãos: matar ou “amarrar” alguém não constitui algo simples e fácil.

Ainda que o título da obra que recomendamos neste artigo sugira o contrário, todos os ritos ensinados por Mestre Yapacani servem, exclusivamente, para fins de Alta Magia. Ou seja, servem para o Bem. Quem os subverter, certamente sofrerá, na carne e no espírito, o revés de haver corrompido princípios de magia natural milenares. Entendamos uma regrinha básica, em pobre analogia, porém eficaz: converter rituais de Alta Magia em Magia Negra é como inverter os pólos elétricos de uma bateria. Precisamos dizer o que acontece?

Ao revelar certas operações da alta magia de Umbanda, Matta e Silva segue sua linha doutrinária, que sempre foi, é e será a de contribuir cada vez mais para a melhoria de todos os adeptos da Umbanda, e, particularmente, para aqueles que se dedicam a essas práticas e necessitam muito de elementos salutares de autodefesa.

Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda
W.W. da Matta e Silva (Yapacani)
166 páginas, Editora Ícone
R$ 30 (em média, sem frete)

domingo, 22 de janeiro de 2012


PARADOXO DE NOSSO TEMPO

Bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.

Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais
informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na
dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão aqui para sempre.

Lembre-se dar um abraço carinhoso em seus pais, num amigo, pois não lhe custa um centavo sequer.

Lembre-se de dizer 'eu te amo' à sua companheira(o) e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, se ame... se ame muito.

Um beijo e um abraço curam a dor, quando vêm de lá de dentro.

Por isso, valorize sua familia e as pessoas que estão ao seu lado, sempre.


George Denis Patrick Carlin (Nova Iorque, 12 de maio de 1937 — Santa Monica, 22 de junho de 2008) foi um humorista, comediante de stand-up, ator e autor norte-americano, vencedor de cinco Grammy.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

AH, EU RECOMENDO!


MACUMBAS E CANDOMBLÉS NA UMBANDA
W. W. da Matta e Silva


Esta é uma obra fora de catálogo, que atualmente é encontrada apenas em sebos, e é bastante recomendada para aqueles que desejam conhecer de perto as raízes históricas e populares da Umbanda e dos cultos afrobrasileiros, no Brasil. Como o próprio título sugere, Matta e Silva expõe em Macumbas e Candomblés na Umbanda a profusa diversidade existente na ritualística dos cultos umbandistas, e propõe ao leitor o estudo acurado da origem da Umbanda do Brasil, destacando o caráter multiforme de seu movimento e de sua vivência popular.

Outrossim, é um livro que se distingue das demais obras de Mestre Yapacani, pois não se presta a fomentar ângulos epistemológicos da Umbanda Esotérica, mas, sim, fornecer uma análise historiográfica das origens e aculturação do elemento africano no Brasil, bem como da influência dos ritos ameríndios no estabelecimento de cultos modernos. Essas duas raças, indubitavelmente, seriam focalizadas por um possante amálgama cultural, que veio a propiciar o nascimento da corrente umbandista tal como a conhecemos.

Longe de apresentar pechas de preconceito ou sectarismo, como alguns detratores de Matta e Silva argumentam, Macumbas e Candomblés na Umbanda tem o único objetivo de documentar, ou melhor, registrar sob um prisma cultural e folclórico, sem apartar o ângulo histórico-religioso, toda a pujança  da trajetória da Umbanda no Brasil, valendo lembrar, obviamente, que o conteúdo dessa obra se baseia na experimentação e mundividência de seu autor, no chamado meio umbandista.

sábado, 14 de janeiro de 2012


PROBLEMAS PESSOAIS


A fé viva não é patrimônio transferível. É conquista pessoal.
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A felicidade legítima não é mercadoria que se empresta. É realização íntima.
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A graça do Céu não desce a esmo. Tem que ser merecida.
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A melhor caridade não é a que se faz por substitutos. Cabe-nos executá-la por nós mesmos.
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A fortaleza moral não é produto de rogos alheios. Provém do nosso esforço na resistência para o bem.
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A esperança fiel não se nos fixa no coração através de simples contágio. É fruto de compreensão mais alta.
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O verdadeiro amor não nasce das sombras do desejo. É fonte cristalina e inexaurível do espírito eterno.
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O conhecimento real não é construção de alguns dias. É obra do tempo.
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O paraíso jamais será adquirido pela sagacidade da compra. É atingível pela nossa boa-vontade em fugir ao purgatório ou ao inferno da própria consciência.
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A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos movimentamos na sombra. Ai de nós, todavia, se não procurarmos as bênçãos da luz!...

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Agenda Cristã. Ditado pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro, RJ: FEB.