terça-feira, 1 de novembro de 2011

FINADOS


No dia 2 de novembro, temos por costume reverenciar nossos mortos. Entretanto, para nós umbandistas, não enxergamos a necessidade de um dia especial para prestar homenagens materiais a quem já se livrou da matéria, bem como cobrir túmulos de flores ou verter lágrimas consternadas.

Os irmãos desencarnados precisam de preces, isto sim. Mas preces despojadas de sentimentos pesados, que possam desprender vibrações perturbadoras, de inconformidade. Lá, no mausoléu, encontram-se apenas restos mortais. O Espírito já está à disposição de Deus, e traçará o seu caminho no além-túmulo conforme a forma como procedeu em vida terrena. Dependendo do tempo já transcorrido desde o desencarne, nossos finados podem inclusive já estar dentre nós novamente, reencarnados. Choramos então por quem foi, mas já voltou!

Entretanto, não podemos nem pensar em impedir o assédio dos enlutados aos cemitérios, pois isso lhes faria enorme mal. Apesar de não coonestar o hábito, entendemo-lo, assistindo em nosso Templo a massa que crê na “vivência” de seu ente querido ali, sob a lápide, ignorando em plenitude que ele já se desligou há muito da matéria. São pessoas que ainda estão com limitadas percepções acerca da Vida Maior, e respeitamos essa situação.

O Dia de Finados já se tornou habitual, e é culturalmente influente em nossa sociedade. A melancolia inata ao evento talvez seja oriunda de uma tradição lusocatólica, dos tempos da Colonização. Curiosamente, outras nações promovem essa data de maneira distinta. Podemos notar no México, por exemplo, alegres festejos que reverenciam a morte e os mortos. Também comemorado em novembro, no Dia de los Muertos há a profusão de músicas, danças, comidas típicas e doces, em um costume que remonta à milenar cultura Asteca. Um interessante contraponto cultural com a forma brasileira de preceituar a morte (veja mais a respeito clicando aqui).

À luz de uma fé espiritualizada, na qual se situa o sistema de culto umbandista, o dia de Finados, sob qualquer cerimonial, acaba perdendo a sua razão de ser. Vejamos algumas oportunas considerações de Emmanuel sobre o assunto, psicografadas por Chico Xavier e publicadas no livro “Encontro Marcado”:

* Não te encerres no passado, com a suposição de honrar a vida. Cada tempo da criatura na terra se caracteriza por determinada grandeza,  que não será lícito falsear...

* Não julgues que ames a alguém, sem que lhe compreendas as necessidades de cada período da existência. A isso nos reportamos a fim de que ajudes positivamente aos seres queridos que te precederam na grande romagem da desencarnação. Sem dúvida, agradecem eles o carinho com que lhes conservas o retrato da forma física ultrapassada; contudo, ser-te-ão muito mais reconhecidos sempre que lhes reconstituas a presença através de algum ato de bondade a favor de alguém, cuja memória agradecida lhes recorde o semblante em momentos de alegria e de amor, que nem sempre no mundo puderam cultivar.

* Decerto, sensibilizam-se ante a flor que lhes ofertam às cinzas, mas se regozijam muito mais com o socorro que faças a quem sofre, doado em nome deles, e pelo qual se sentem mais atuante e mais vivos, junto daqueles que ficaram...

* Quando mentalizares os supostos desaparecidos na voragem da morte, pensa neles do ponto de vista da imortalidade e do progresso.

* Reverencia aqueles que partiram na direção da Vida Maior, mas converte a saudade e o pesar em esperança e serviço ao próximo.

Enfim, é importante compreendermos que ninguém morre, apenas muda de situação, sob os ditames da Eternidade incorpórea que nos envolve e nos faz evoluir. Confiemos na Providência Celestial, pois ela encaminha com Justiça e Sabedoria o caminho suprafísico dos entes que já nos deixaram.


Andréa Oliveira Salgado
e Luciano M. Leite

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