sexta-feira, 29 de julho de 2011

PARA REFLETIR...

O ESPAÇO QUE VOCÊ OCUPA
Neimar de Barros *

O espaço da letra i é menor que aquele ocupado pela letra m, mas sua importância é grande porque se não comparecer na composição de sua palavra, esta não fica completa.

Não importa o espaço que ocupamos, mas o que fazemos com ele.

Quando chegamos, chega conosco o BEM?

Ocupamos o espaço porque no-lo reservaram ou porque merecemos?

Chegamos para ocupar nosso espaço com amor ou simplesmente para preencher um vazio?

Preocupo-me em valorizar e promover os que me rodeiam, ou quero que os espaços em torno sejam só pra me servir?

O que tenho feito do espaço que ocupo? Sou um i que não entra na composição da palavra  C R  S T O ???

Sou um m que foge da palavra  A   O R ???

Que tenho feito? Não entro, fujo, não correspondo? Que faço eu da minha presença?

E.T. – Se o “S”, por preguiça, vagabundagem, não quiser ir, e mandar o “M”, não será a mesma coisa. Veja só:     O R T E


MEDITAÇÃO: É hora de assumir a missão!



* = do livro “O Diabo é cor de rosa”
Sorvil Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 1º Edição, 1977

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ACERVO FOTOGRÁFICO


Prédica inicial de Mãe Tina, à ocasião da inaguração da sede própria da TUEDLUZ, em setembro de 1988.


terça-feira, 26 de julho de 2011

ACERVO FOTOGRÁFICO

dedicatória de W.W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani) à Argentina Oliveira Salgado (Mãe Tina), na primeira página de um exemplar de "Umbanda de Todos Nós" - 05/07/1977.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

BAÚ DA MÃE


SENTINELA

Exista quantos olhos existirem
Que de nada adiantariam
Para nos prestar sentinela
Às ambições que nos cercam,
Aos invejosos que nos vêem,
Aos pobres de espírito que circulam dentre nós

E aqueles que passam por bons
Mas, no entanto,
Olham-nos com desdém,
Com inveja e despeito.

Somos, por conveniência de nós mesmos
Elementos sem sentinelas
Porque não sabemos
Ou não queremos aprender
A orar a Deus com sentimentos de Amor.

Esquecemos a nossa obrigação como filho Dele.
Esquecemos que devemos nossas vidas terrenas a Ele.

Ignoramos em tudo e por tudo
Que aqui nos encontramos num mundo de expiações,
E, a nós, compete
Adotar uma conduta de vida digna
De nos fazer merecer a bondade Divina
E aí, então, não precisaríamos de sentinelas,
Bastando tão somente a luz de Deus
A guiar-nos na caminhada desta vida.


Mãe Tina
(artigo concebido em abril de 1986, e publicado no Periódico Buscando Luz Nº 39 – edição de abril de 2000).

domingo, 24 de julho de 2011

AS SETE LÁGRIMAS DE PAI-PRETO


Foi numa noite estranha, aquela noite queda; estranhas vibrações penetravam no meu Ser Mental e me faziam ansiado por algo, que pouco a pouco se fazia definir...


Era um quê desconhecido, mas sentia-o, como se estivesse em comunhão com minha alma, e externava a sensação de um silencioso pranto...

Quem do mundo Astral emocionava assim um pobre “eu”? Não o soube, até adormecer... e “sonhar”...

Vi meu “duplo” transportar-se, atraído por cânticos que falavam de Aruanda, Estrela Guia Zambi, eram as vozes da SENHORA DA LUZ VELADA , dessa UMBANDA DE TODOS NÓS que chamavam seus filhos de fé...

E fui visitando Cabanas e Tendas, onde multidões desfilavam, mas, surpreso ficava, com aquela “visão” que em cada um eu “via”, invariavelmente, num canto, pitando, um triste preto velho chorava.
De seus “olhos” molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces, não sei porque, contei-as...foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e interroguei-o: fala meu Pai Preto, diz ao teu filho, por que externas assim tão visível dor?

E ele, suave, respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e saí? As lágrimas contadas distribuídas estão a cada uma delas.

A primeira eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, na curiosidade de ver, bisbilhotar, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...

Outra, a esses eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um “milagre” que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam.

E mais outra foi para esses que crêem, porém, numa crença cega, escrava de seus interesses estreitos. São os que vivem eternamente tratando de “casos” nascentes uns após outros...
E outra mais distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejam sempre prejudicar a um seu semelhante – eles pensam que nós, os Guias, somos veículos de suas mazelas, paixões , e temos obrigação de fazer o que pedem... pobres almas, que das brumas ainda não saíram.

Assim, vai lembrando bem, a quinta lágrima foi diretamente aos frios e calculistas – não crêem, nem descrêem: sabem que existe uma força e procuram se beneficiar dela de qualquer forma. Cuida-se deles, não conhecem a palavra gratidão, negarão amanhã até que conheceram uma casa de Umbanda...

Chegam suaves, têm o riso e o elogio na flor dos lábios, são fáceis, muito fáceis; mas se olhares bem seus semblantes, verás escrito em letras claras: creio na tua Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o “meu caso”, ou me curarem “disso ou daquilo” ...

A sexta lágrima eu a dei aos fúteis que andam de Tenda em Tenda, não acreditam em nada, buscam aconchegos e conchavos; seus olhos revelam um interesse diferente, sei bem o que eles buscam.

E a sétima, filho, notaste como foi grande e como deslizou pesada? Foi a ÚLTIMA LÁGRIMA, aquela que “vive” nos "olhos" de todos os “pretos-velhos”; Fiz doação dessa, aos vaidosos, cheios de empáfia, para que lavem suas máscaras e todos possam vê-los como realmente são...

“Cegos, guias de Cegos”, andam se exibindo com a Banda, tal e qual mariposas em torno da luz; essa mesma luz que eles não conseguem VER, porque só visam a exteriorização de seus próprios “egos”.

“Olhai-os” bem, vede como suas fisionomias são turvas e desconfiadas; observai-os quando falam “doutrinando”; suas vozes são ocas, dizem tudo de “cor e salteado”, numa linguagem sem calor, cantando loas aos nossos Guias e Protetores, em conselhos e conceitos de caridade, essa mesma caridade que não fazem, aferrados ao conforto da matéria e a gula do vil metal. Eles não têm convicção.

Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma, as SETE LÁGRIMAS DE PAI-PRETO! Então, com minha alma em pranto, tornei a perguntar: não tens mais nada a dizer, Pai Preto? E daquela “forma velha”, vi um véu caindo e num clarão imenso que ofuscava tanto, ouvi mais uma vez...

“Mando a luz da minha transfiguração, para aqueles que esquecidos pensam que estão... ELES FORMAM A MAIOR DESSAS MULTIDÕES...”

São os humildes, os simples, estão na Umbanda pela Umbanda, na confiança pela razão...SÃO OS SEUS FILHOS DE FÉ.

São também os “aparelhos”, trabalhadores, silenciosos, cujas ferramentas se chamam DOM e FÉ, e seus salários quase sempre são pagos com uma só moeda, que traduz o seu valor numa única palavra – a INGRATIDÃO...

W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani)
[originalmente publicada no livro Umbanda de Todos Nós, 2ª edição (1960) - Livraria Freitas Bastos].



Nossa nota:

Certamente, as “SETE LÁGRIMAS DE PAI PRETO” é a produção literária de maior destaque na distinta trajetória de W. W. da Matta e Silva, enquanto escritor umbandista. Foi concebida numa época conturbada, em um contexto social que deixava a Umbanda entregue aos mais pedantes conceitos, mormente perante a mídia e a opinião pública. Depois de cinqüenta anos, o panorama não é muito diferente daquele enfrentado por Pai da Matta: os terreiros de Umbanda continuam assistindo ao desfile das massas que merecem as consternadas lágrimas dos pretos-velhos.

Os merecedores da sétima lágrima ainda estão em plena atividade, “doutrinando” consciências de forma, no mínimo, duvidosa. Com o avanço tecnológico, há um agravante: escândalos e deturpações doutrinárias se propagam muito mais rápido, e permanecem acesos por mais tempo no imaginário coletivo, sempre sedento por histórias “macabras”, ainda que levianamente atreladas à Umbanda.

A “SETE LÁGRIMAS DE PAI PRETO” costuma ser encontrada na Internet como sendo de autoria desconhecida. Em alguns sites, é vista com alterações diversas; que mutilam ou acrescentam versos ao texto original. Justiça seja feita então, em nosso blog. Reproduzimos acima a versão original que foi publicada em 1960, na segunda edição de “Umbanda de Todos Nós” – primeiro livro escrito por Pai da Matta.

sábado, 23 de julho de 2011

PARA REFLETIR...


CASA ARRUMADA


Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
 
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,passaporte e vela de aniversário, tudo junto...

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos... pros vizinhos...
 
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
 
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
 
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
 
E reconhecer nela o seu lugar.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 22 de julho de 2011

PARA REFLETIR...


DEUS NEGRO
Autor: Neimar de Barros


Eu, detestando pretos,
Eu, sem coração!...
Eu, perdido num coreto,
Gritando: “Separação”!
Eu, você, nós... nós todos,
Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo,
Lodo na cor...
E com petulância, arrogância,
Afastando a pele irmã.


Mas
Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora?
Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas,
Se eu chegasse lá e um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei
Se a sua mão tateasse pelo trinco,
Como as mãos do cego que não ajudei!

 
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei!

 
Se eu sentisse o chão frio,
Como o dos presídios que não visitei!
Se eu visse as paredes caindo,
Como as das creches e asilos que não ajudei!

 
E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei
Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!

 
Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome!
E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
Da prostituta que eu usei,
Ou do moribundo que não olhei,
Ou da velha que não respeitei,
Ou da mãe que não amei!...

 
Corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
Sei lá, só dei desgosto!
E, no fim do corredor, o início da decepção!

 
Que raiva, que desespero,
Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
O maldito funcionário, e até, até o padeiro,
Todos sorrindo não sei de quê!
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

 
Deus não está vestido de ouro! Mas como???
Está num simples trono:
Simples como não fui, humilde como não sou.
Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara a cara, face a face,
Sem aquela imponente classe.
Deus simples! Deus negro!
Deus negro!?

 
E Eu...
Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão!
Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão? Que nada!

 
Meu Deus você é negro, que decepção !
Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

 
Deus, eu não podia adivinhar.
Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
Aquele que expulsei da frente de casa!

 
Deus, pregaram você na cruz
E você me pregou uma peça:
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
E cheguei até a pensar em amor,
Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor!...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

BAÚ DA MÃE: O SOFRIMENTO

Todos nós perguntamos sempre: por que sofremos?

Outros perguntam: Por que logo eu, que só pratico o bem, não desejo o mal a ninguém, e sofro tanto?

Fulano é tão bom, por que ele sofre assim?

São perguntas que fazemos a todo instante, mediante um problema, uma doença, um revés. Mas, para isso, a nossa doutrina nos ensina: O sofrimento é a conseqüência inelutável da incompreensão e dos transviamentos da Lei que rege a evolução humana.

O homem traz em si infinitas riquezas de que mal se apercebe. Pode dominar tudo: a dor, a fome, a sede, o sono. Tendo se sujeitado à vida material, acreditou vencer as forças más. Entretanto, uma vez encerrado na prisão da carne, perdeu a lembrança de seu poder espiritual latente, e as faltas em que incorreu o arrastaram para as existências reparadoras, para a expiação.

O sofrimento não é inimigo, como se acredita. É, no entanto, um companheiro que não sabe mentir. É, ainda, o instrumento de toda elevação e o único meio de nos arrancar a indiferença, a volúpia. É um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida. Por vezes, é uma forma de justiça, corretivo aos nossos atos anteriores e longínquos.

O sofrimento é um misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha para a nossa salvação, se transformando num meio educativo e purificador. Sofrer é acelerar o nosso progresso espiritual. É incentivo para as batalhas renhidas que recobrem de glórias os mais corajosos combatentes, e cujos triunfos consistem na virtude, na mansuetude, no trabalho honesto, no sacrifício, na abnegação, no amor ao próximo. Além do mais, é a forja purificadora, onde perdemos o peso das paixões inferiores, a fim de nos alçarmos à vida mais alta.

Por fim, o sofrimento é luz que nos aquece. Sinal de Deus que nos aclara as ilusões, para que delas possamos nos despojar. Sendo Deus o nosso Pai Eterno, Ele não quer nos punir. Ele não é o carrasco que algumas religiões pregam. Deus é misericórdia e só quer o nosso bem. Todavia, Ele quer que saibamos buscar todas essas maravilhas da vida terrena, praticando o bem, o amor, a fé e a busca por uma vida sem sofrimentos.

Portanto, vamos promover a paz, tanto social quanto interior, para que assim não sejamos alvo do sofrimento.

Deus nos abençoe.

Mãe Tina
(artigo originalmente publicado no Periódico Buscando Luz Nº 49 – edição de março de 2001).

sábado, 16 de julho de 2011

PARA REFLETIR...

Mensagem aos idosos

Antônio Roberto *

(Publicado na Coluna Bem Viver do Jornal Estado de Minas)

Toda luta contra a realidade nos leva ao sofrimento. O que caracteriza a vida é a transitoriedade, a passagem. Ela é o essencial da existência e nela experienciamos a vitalidade humana, traduzida em fatos, sentimentos, ações e situações que se sucedem no tempo. Viver, portanto, é envelhecer. Não é à toa que no dia do nosso aniversário, dia sagrado do nosso nascimento, os amigos nos desejam “muitos anos de vida”. Cumprir esse desejo maravilhoso dos que nos amam é envelhecer. Tenho percebido que há uma grande diferença entre envelhecer e ficar velho. Envelhecer é apenas seguir a trajetória natural do rio, fluindo no seu destino e no seu caminho. Nesse sentido todas as pessoas estão envelhecendo: minhas netas, meus filhos, meus amigos, minha mulher, eu.

Ficar velho é resistir à passagem do tempo, é querer o impossível: ser eterno, é desdenhar do transitório, querendo a permanência, a segurança, o definitivo. Ficar velho é lutar contra a realidade humana, cujo valor fundamental está no fato de que tudo passa e que tudo deve ser usufruído. Sempre gosto de repetir que a vida é para ser vivida e não para ser conservada. Não é o envelhecer que dói ou é ruim. O que nos provoca sofrimento é a idéia que temos do envelhecimento, é a resistência a esse processo, que, no fundo, é uma resistência à vida, à espontaneidade, à beleza do viver.

Outra consideração que poderá ajudar a todos nós, Madalenas da vida, é que envelhecer é fácil, não depende de nós e, por isso todos envelhecemos, inclusive os animais. O difícil, e que é uma escolha, é o crescimento. O verdadeiro prazer da existência vem do desenvolvimento do nosso potencial. Pessoas que fizeram um pacto com o crescimento e o aprendizado envelhecem felizes. Aqueles, no entanto, que optaram por observar passivamente a trajetória do tempo, cumprindo apenas o processo biológico, acabam se emaranhando nas teias da acomodação e do medo de morrer. A chave da felicidade é utilizar a vida, desenvolvendo os próprios talentos, ao invés de lamentar seu curso. A idade avançada não nos dá o direito de sermos rabugentos, de reclamar, queixar, acomodar ou justificar a pouca vontade de viver. O tempo é sempre nosso aliado e não nosso inimigo. Daí minha insistência no fato de que “hoje é o primeiro dia da nossa vida”, nos convidando à celebração e ao recomeço.

Aumentar a nossa competência de viver o momento presente é outro antídoto contra a ignorância ao envelhecer. Com a passagem dos anos, somos tentados a nos concentrarmos no passado, principalmente através da saudade e da culpa. Saudade das coisas boas e culpa pelas coisas ruins. Ou então no futuro, com medo da morte e das perdas. Um velho sábio é o que aprendeu, mais do que ninguém, que a melhor forma de viver é viver no presente, no agora, apenas aprendendo com o passado e olhando em paz para o futuro. O velho estúpido é o que morreu ou está morrendo, antes de morrer e a melhor forma disso é fixar-se no retrovisor ou no amanhã.

No desenvolvimento humano é natural a perda da vitalidade física, dos movimentos, da saúde, da disposição para muitas coisas. O que não é natural é a perda da vitalidade emocional, espiritual, da esperança. Fomos acostumados a enxergar a vida através da quantidade e não da qualidade. Não importa quantos anos você já viveu. Importa como você está vivendo. E o que caracteriza a qualidade é a inteireza, a totalidade. Se vivermos com amor, crescendo, batalhando com intensidade, apesar de todos os limites, buscando a felicidade, há qualidade de vida. Se, ao contrário, vivemos apenas para manter a vida, buscando segurança e estabilidade, e medindo quantos anos vivemos ou vamos viver, fomos contaminados pelo processo social do TER, da quantidade, o que nos traz medo e insegurança, porque, ainda que não queiramos, sabemos que a vida humana é finita e vai-se acabar. Já que vamos morrer, vivamos com entusiasmo e plenitude.

E, finalmente podemos resumir toda a questão do sofrimento ao envelhecer no processo da auto-estima. Como nossa sociedade é narcisista, baseada em imagens idealizadas, embarcamos no mito da beleza e da juventude, como se a imagem fosse mais importante que a vida presente no nosso corpo. Que diferença faz a idade, se meu coração está batendo, se estou respirando, se posso escutar os sons, apalpar o mundo e celebrar a vida? A felicidade está na forma de lidar com o mundo e não na perfeição. Auto-estima é nos amarmos sem nenhuma exigência ou condição. É nos amarmos tal qual somos, com nossas fraquezas, nossas dificuldades, nossas rugas. Quanto mais envelhecemos, mais gratidão deve povoar nossos corações como ensinam, as antigas tradições espirituais, pois que a idade avançada nos mostra apenas uma coisa: fomos os escolhidos de Deus para testemunharmos, durante longo tempo, a vida que nos foi dada de graça. Vivê-la com graça e com sabedoria é o que temos de aprender.

Envelhecer é fácil. O difícil é crescer, aprender, amar, apesar do tempo…

* = Antônio Roberto é consultor empresarial em comportamento humano, administrador e deputado federal pelo Partido Verde.

terça-feira, 12 de julho de 2011

NOTA DE AGRADECIMENTO

BINGO BENEFICENTE TUEDLUZ 2011

A direção da TUEDLUZ se serve deste blog para agradecer encarecidamente a todos os amigos e colaboradores que tornaram possível a realização de nosso Bingo Beneficente - realizado no último sábado. O evento foi sucesso de público, e alcançou em plenitude o objetivo primaz da nossa proposta: conciliar a interação sóciorrecreativa de nossos frequentadores com a promoção de atividades voltadas para a subsistência de nossa Instituição,
enquanto Entidade caritativa.

Rogamos aos Orixás bênçãos plenas e perenes a todos vocês, que sensibilizados pela nossa causa, possibilitaram a celebração de nosso Bingo filantrópico.

Um fraternal abraço! Muito obrigado!

Mãe Andréa
presidente da TUEDLUZ

P.S. = E atendendo a pedidos... vem aí a nossa famosa Feijoada, ainda este ano! Aguardem!

terça-feira, 5 de julho de 2011

PARA REFLETIR...

SETE PASSOS PARA SUPERAR O CONTROLE DO EGO SOBRE VOCÊ

Por Wayne W. Dyer *

Aqui estão sete sugestões para ajudá-lo a transcender idéias arraigadas sobre a própria importância. Todas estas são concebidas para ajudar a impedi-lo de se identificar falsamente com a auto-importância do ego.

1 – Deixe de ficar ofendido.

O comportamento dos outros não é motivo para ficar retido. Aquilo que o ofende somente o enfraquece. Se estiver procurando ocasiões para ficar ofendido, você as encontrará a cada oportunidade. Este é o seu ego operando, convencendo-o de que o mundo não deveria ser assim. Mas você pode se tornar um apreciador da vida e se equiparar ao Espírito universal da Criação. Você não pode alcançar o poder da intenção ao ficar ofendido. De qualquer modo, aja para erradicar os horrores do mundo que emanam da identificação massiva do ego, mas fique em paz. Como “Um Curso em Milagres” nos lembra: “A Paz é de  Deus, você que é parte de Deus, não está no lar, exceto em sua paz. O Ser é de Deus, você que é parte de Deus não está no lar, exceto em sua paz”. Ficar ofendido cria a mesma energia destrutiva que o ofendeu em primeiro lugar e leva ao ataque, ao contra-ataque e à guerra.

2 – Libere a sua necessidade de vencer.

O ego adora nos dividir em vencedores e perdedores. A busca da vitória é um meio infalível de evitar o contato consciente com a intenção. Por quê? Porque em última instância, a vitória é impossível o tempo todo. Alguém lá fora será mais rápido, mais afortunado, mais jovem, mais forte e mais inteligente, e novamente você se sentirá inútil e insignificante.

Você não é o seu prêmio ou a sua vitória. Você pode curtir a competição, e se divertir em um mundo onde a vitória é tudo, mas você não tem que estar lá em seus pensamentos. Não há perdedores em um mundo onde todos compartilham a mesma fonte de energia. Tudo o que você pode dizer em um determinado dia é que você realizou em um determinado nível, em comparação aos níveis de outros neste dia. Mas hoje é outro dia, com outros competidores e novas circunstâncias a considerar. Você está ainda na presença infinita em um corpo que está em outro dia, ou em outra década, mais velho. Deixe ir a necessidade de vencer, sem concordar que o oposto de vencer é perder. Este é o medo do ego. Se o seu corpo não está atuando de modo a vencer neste dia, ele simplesmente não se importa quando você não está se identificando exclusivamente com o seu ego. Seja o observador, notando e apreciando tudo isto sem precisar ganhar um troféu. Esteja em paz, e corresponda com a energia da intenção. E, ironicamente, embora você quase não o perceba, mais vitórias se apresentarão em sua vida quando menos as perseguir.

3 – Deixe ir a sua necessidade de estar certo.

O ego é a fonte de muitos conflitos e desavenças, porque ele o empurra na direção de tornar outras pessoas erradas. Quando você é hostil, está desconectado do poder da intenção. O Espírito Criativo é bondoso, amoroso e receptivo; e livre da raiva, do ressentimento ou da amargura. Liberar a sua necessidade de estar certo em suas discussões e relacionamentos é como dizer ao ego: eu não sou um escravo para você. Eu quero aceitar a bondade e rejeitar a sua necessidade de estar certo. Realmente, eu oferecerei a esta pessoa uma oportunidade de se sentir melhor, dizendo que ela está certa, e lhe agradecer por me apontar na direção da verdade.

Quando você deixa ir a necessidade de estar certo, é capaz de fortalecer a sua conexão com o poder da intenção. Mas tenha em mente que o ego é um combatente determinado. Eu tenho visto pessoas terminarem relacionamentos maravilhosos, apegando-se a sua necessidade de estar certo, interrompendo-se no meio de um argumento e se questionando: “Eu quero estar certo ou ser feliz?” Quando você escolhe o humor feliz, amoroso e espiritualizado, a sua conexão com a intenção é fortalecida. Estes momentos expandem no final das contas, a sua nova conexão com o poder da intenção. A Fonte universal começará a colaborar com você, criando a vida que você pretendia viver.

4 – Deixe ir a sua necessidade de ser superior.

A verdadeira nobreza não se refere a ser melhor do que outra pessoa. Trata-se de ser melhor do que você costumava ser. Permaneça focado em seu crescimento, com uma consciência permanente de que ninguém neste planeta é melhor do que outro. Todos nós emanamos da mesma força de vida criativa. Todos nós temos uma missão de compreender a nossa essência pretendida. Tudo o que precisamos para cumprir o nosso destino nos está disponível. Nada disto é possível quando você se vê como superior aos outros. É um velho provérbio, mas, entretanto, verdadeiro: Somos todos iguais aos olhos de Deus. Deixe ir a sua necessidade de se sentir superior, vendo a revelação de Deus em todos. Não avalie os outros com base em sua aparência, em suas conquistas, posses e em outros índices do ego. Quando você projeta sentimentos de superioridade, isto é o que você recebe de volta, levando a ressentimentos, e principalmente, a sentimentos hostis. Estes sentimentos se tornam o veículo que o distancia mais da intenção. Um Curso em Milagres trata desta necessidade de ser especial e superior. A pessoa que se julga especial sempre faz comparações.

5 – Deixe ir a necessidade de ter mais.

O mantra do ego é mais. Ele nunca está satisfeito. Não importa quanto você consiga ou adquira, seu ego vai insistir que não há o suficiente. Você se encontrará em um estado perpétuo de esforço para obter, eliminando a possibilidade de nunca chegar. Entretanto, na realidade, você já chegou, e como você optar por usar este momento presente de sua vida, é sua escolha. Ironicamente, quando você deixa de precisar mais, mais do que você deseja parece chegar a sua vida. Desde que você se desligou da necessidade por isto, você achará mais fácil transmiti-lo aos outros, porque você compreende quão pouco você precisa a fim de ficar satisfeito e em paz.

A Fonte universal está contente com ela mesma, expandindo-se constantemente e criando nova vida, sem tentar se apegar as suas criações para seus próprios propósitos egoístas. Ela cria e libera. Quando você libera a necessidade do ego de ter mais, você se unifica a esta Fonte. Você cria, atrai para si e libera, nunca exigindo que mais venha ao seu caminho. Como um apreciador de tudo o que se apresenta, você aprende a poderosa lição de S. Francisco de Assis: “É dando que recebemos.” Ao permitir que a abundância flua para e através de você, você se equipara a sua Fonte e garante que esta energia continue a fluir.

6 – Deixe de se identificar com base em suas realizações.

Este pode ser um conceito difícil se pensar que vocês são as suas realizações. Deus canta todas as músicas, Deus constrói todos os prédios, Deus é a fonte de todas as suas realizações. Eu posso ouvir o seu ego protestando em voz alta. Entretanto, permaneça atento a esta idéia. Tudo emana da Fonte! Você e esta Fonte são um! Você não é este corpo e as suas realizações. Você é o observador. Observe tudo isto; e seja grato pelas habilidades que acumulou. Mas dê todo o crédito ao poder da intenção, que lhe trouxe à existência e da qual é uma parte materializada. Quanto menos precisar assumir o crédito pelos seus empreendimentos e mais conectado permanecer às sete faces da intenção, mais estará livre para realizar, e mais se apresentará para você. Quando você se liga a estas conquistas e acredita que apenas você que está fazendo todas estas coisas, você deixa a paz e a gratidão de sua Fonte.

7 – Deixe ir a sua reputação.

Sua reputação não está localizada em você. Ela reside nas mentes dos outros. Portanto, você não tem nenhum controle sobre tudo isto. Se falar para 30 pessoas, você terá 30 reputações. Conectar-se à intenção significa ouvir o seu coração e se conduzir baseado naquilo que a sua voz interior lhe diz que é o seu propósito aqui. Se estiver muito preocupado em como será percebido por todos, então você se desliga da intenção e permite que as opiniões dos outros o oriente. Este é o seu ego operando. É uma ilusão que se interpõe entre você e o poder da intenção. Não há nada que não possa fazer, a menos que se desconecte da fonte de poder e se torne convencido de que o seu propósito é provar aos outros como você é poderoso e superior, e gaste a sua energia tentando ganhar uma gigantesca reputação entre outros egos. Permanecer no propósito, desligar-se do resultado, e assumir a responsabilidade pelo que faz, reside em você: seu caráter. Deixe que a sua reputação seja debatida por outros. Ela nada tem a ver com você. Ou como o título de um livro diz: “O que você pensa de mim, não é da minha conta.



* Dr. Wayne Walter Dyer é psicoterapeuta e tem doutorado na área de educação pela Wayne State University, sendo associado do curso de doutorado da St. Jonh’s University, em Nova York. É autor e co-autor de diversos livros, colabora com alguns periódicos e é conferencista reconhecido nos Estados Unidos da América.
Sua obra Your Erroneous Zones, de 1976, inspirado na psicologia humanista de Abraham Maslow, já vendeu mais de 30 milhões de cópias e é um dos livros mais vendidos de todos os tempos.É dito que ele "trouxe idéias humanísticas para as massas".

segunda-feira, 4 de julho de 2011

BAÚ DA MÃE: O TEMPLO

Templo é a casa onde se reúnem os que prestam culto à divindade, não importando que se lhe chame Igreja, Mesquita, Centro ou Tenda. É sempre o local para onde vão aqueles que acreditam no Criador, e que em seu Nome se agregam, se reúnem, se harmonizam.

A rigor, os homens deviam reconhecer nos Templos o lugar sagrado do Altíssimo, onde deveriam aprender a fraternidade, o amor, a cooperação no programa contínuo de servir à Deus e à Jesus. O Templo é uma obra no chão planetário, cujo objetivo é a elevação da criatura humana, através da palavra do Evangelho – instrumento pelo qual podemos buscar a bênção Celestial.

A nossa TUEDLUZ não foge à regra, pois nosso Templo se destina a ser um recanto de paz, e se caracteriza pela simplicidade inata à afeição e à crença nas palavras vivificantes de Jesus Cristo, o nosso meio Oxalá. Trabalhamos para que nossa choupana seja um santuário de prece, um local de reforma íntima para encarnados e um refúgio de consolação aos irmãos desencarnados, que porventura estejam carentes de auxílio espiritual.

Sendo uma casa de Cristo, buscamos o fluxo de Forças Superiores em nossas dependências. Através de uma fé metrificada no culto umbandista, nossa meta é cultivar bênçãos, esclarecimentos, consolo, renovação e solidariedade, equilibrando nosso âmago. Para muitos crentes, o Templo é o caminho da oração, da busca, do alívio. Por ser um local de oração, devemos buscar sintonia plena com a egrégora firmada, e manter o pensamento na análise de nossa própria fé. Jesus prometeu que “aquele que pedisse em seu Santo Nome seria atendido. Mas, como pedir, e o que pedir? Pedir pela saúde, paz, harmonia familiar, pois somente buscando o bem é que encontraremos a energia que torna nosso Espírito pleno em si, imantado e redescoberto na vibração virginal do Criador.

A Espiritualidade Superior está presente em todos os momentos, ou seja, 24 horas por dia dentro de um Templo, preparando o ambiente para que nós possamos cumprir nossa tarefa, e vocês, irmãos e irmãs, ao adentrar, possam ser abençoados. Sejam bem vindos ao Templo da TUEDLUZ, e aprendam a respeitá-lo e senti-lo como uma plataforma de louvor à Deus!

JESUS SEJA SEMPRE LOUVADO.

Mãe Tina
(artigo originalmente publicado no Periódico Buscando Luz Nº 25 – edição de janeiro de 1999).

sexta-feira, 1 de julho de 2011

CRÔNICAS DE TERREIRO

MEUS PROBLEMAS x MINHA AUTOCRÍTICA:
Porque as Entidades da Umbanda não resolvem o meu caso?

Entra ano, sai ano, e a experiência que vamos adquirindo enquanto praticantes da Umbanda nos permite constatar que a maior parte dos problemas que são levados aos nossos templos continua inalterada. Os maridos ainda precisam ser “amarrados”, os filhos estão cada vez mais rebeldes, o dinheiro é cada vez mais insuficiente para pagar as contas, e dúzias de encostos permanecem assombrando pobres almas inocentes. Será que os Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças não estão dando conta do recado? Já não se fazem mais Exus como antigamente? Ou será que estamos diante de uma massa de “fieis” cada vez mais omissa às suas próprias obrigações éticas, sociais e familiares?

Há mais de século, os Mentores Espirituais que acorrem aos nossos templos nos alertam para a necessidade de decompormos o cerne de nossos problemas sob a luz da autocrítica. Pois muitos obstáculos adquirem ares de insolubilidade pelo fato de não admitirmos que eles florescem à revelia de uma análise centrada naquilo que NÓS poderíamos ter feito para resolvê-los. Bom seria se levássemos à presença de uma Entidade mediunicamente manifestada apenas dúvidas relacionadas às nossas próprias fraquezas, ou, quem sabe, desabafos que não estivessem tão camuflados pela negação em admitir nossas falhas. Entretanto, o panorama é desalentador, pois décadas transcorrem e continuamos com a confortável sensação de poder terceirizar a causa íntima de nossos tormentos. E haja vela e magia para que tanta crise seja resolvida!

A verdade é que os ditames comportamentais de nossa sociedade também estão influenciando a noção de responsabilidade que deveríamos ter, mormente perante o enfrentamento dos nossos óbices existenciais. Certa vez ouvi uma irmã de fé dizer que noventa por cento dos problemas trazidos aos terreiros seriam resolvidos em um divã, e não por “força de pemba”. Análise corretíssima, infelizmente! Pois vejamos: Em plena era do telefone celular, dos bate-papos virtuais, das formas de comunicação que possibilitam uma interação interpessoal cada vez mais fácil e objetiva, ainda assistimos pessoas que se esquivam de qualquer entendimento verbal com o alvo de seus sentimentos amorosos. Pessoas tomadas, quem sabe, por um misto de timidez, egoísmo, depressão e amor platônico, que simplesmente não se julgam competentes para conversar, discutir a relação, ou investigar as reais intenções de seus pretendentes. Onde essa frustração é despejada? Muitas vezes, aos pés de um Preto-Velho, Caboclo, Criança ou Exu. Aí, como se estivéssemos em um call center qualquer, solicitamos à Entidade uma intervenção astral sobre o problema, para que o “ser amado” volte logo, como num passe de mágica, se possível bem docinho e amarradinho. E como bem ensina a regra capitalista, nos dispomos até a pagar pelo “serviço” feito.

Outro problema comumente trazido aos Gongás da Umbanda reflete a dificuldade que temos em educar nossos descendentes. Mais uma vez, obliteramos nossa parcela de culpa, que na maioria dos casos é ilustrada pelo binômio filhos rebeldes = pais complicados, e defendemos que a insubordinação de um filho está exclusivamente atrelada a “influências espirituais”. Tudo acaba sendo jogado “na conta” de espíritos obsessores, quando, na verdade, salta aos olhos a evidência de uma educação defeituosa, eivada de mimos exagerados, superproteção, negligência e/ou indisciplina. Resta às Entidades de Umbanda a tarefa de consertar essa situação? Obviamente que não!

Também não poderíamos deixar de discorrer acerca de um problema que quase sempre é levado ao conhecimento de nossos imperturbáveis Mentores Espirituais: a falta de dinheiro. Diamantino Fernandes Trindade vaticina nesse sentido com uma maestria lacônica: “Nenhum trabalho para atrair dinheiro surtirá efeito se você gastar mais do que ganha.” No século do consumismo leviano e desenfreado, quem pode afirmar que está à salvo da mania de perseguir aquisições supérfluas? Quantos telefones celulares você comprou nos últimos trinta e seis meses? Quantas vezes você pensou em tomar um empréstimo, simplesmente para obter algo que “estava na moda”? Quantos desejos pululam em nosso âmago, impulsionados por apelos culturais estritamente superficiais? Será que o dinheiro realmente está faltando, ou o que falta mesmo é um planejamento financeiro em nossa rotina de gastos? Mais uma vez, levamos atribulações criadas pelos nossos desequilíbrios aos pés dos Orixás, como se estes tivessem o poder de tudo resolver, à revelia de nosso livre-arbítrio... Plantamos mal, semeamos pior, mas queremos colher o melhor possível.

Por último, mas não menos recrudescente, flutua o imbróglio dos “encostos” – esses capetinhas danados que sempre fecham os nossos caminhos e perturbam gratuitamente o sucesso da nossa inocente jornada terrena. Por muitas vezes, nós os responsabilizamos por outros problemas já comentados: falta de dinheiro, namorado, ou a rebeldia de filhos, parentes e amigos. Na contrapartida dessa rotulação endêmica, já ouvi um Exu assertivar que os casos de obsessão clássica – aqueles que eram comuns há cinqüenta anos atrás, de um desencarnado perturbado sobre um encarnado incauto – são cada vez mais raros de serem observados. Isso porque NÓS estamos assumindo a dianteira nessa questão, ou melhor, estamos abrindo nossas portas mentoastrais para que obsessões e obsessores possam nos dominar. O convite está partindo de nossas mentes “inocentes”, frágeis a ponto de culpabilizar o “Reino das Trevas” pelo MEU alcoolismo, ou de acusar uma alma penada pela MINHA tendência ao sensualismo exacerbado. Problemas de caráter? Não os tenho! São os meus “encostos” que colocam esses espinhos em minha personalidade! Vamos nos enganando, na medida em que enormes falanges de assediadores “astrais” vão crescendo em nossas cabeças auto-obsedadas!

Enfim, enquanto não soubermos mensurar a nossa parcela de culpa nessas situações que levamos ao conhecimento de Entidades mediunicamente manifestadas, estaremos fadados a sair de um Terreiro de Umbanda sem perspectiva de resolução para os nossos problemas. Nenhuma “magia” pode quebrar aquilo que nasce do nosso livre-arbítrio e floresce em nossa resoluta vontade de agir egoisticamente. Ainda assim, abnegados Pretos-Velhos, Caboclos e Erês estão sempre a nos indicar a solução: o caminho do autoconhecimento como fonte única de libertação plena. Caminho de difícil persecução, pois desafia a todo instante a vaidade e o comodismo que cultivamos. Mas caminho essencial para que tenhamos condições de empreender a tão falada Reforma Íntima, e sorver plenamente todo o poder dessa assistência espiritual trazida pelo Evangelho Cristão, redivivo no Astral de Umbanda.

Lembre-se: se a sua autocrítica é menor do que seus problemas, seus problemas certamente são bem maiores do que você pensa!

Luciano Martins Leite
membro da TUEDLUZ