 |
| Mãe Tina aos quatro anos de idade (1942) |
Para contarmos a história da TUEDLUZ, invariavelmente precisamos percorrer a trajetória de vida de sua fundadora, Argentina Oliveira Salgado, nascida em 23/04/1938, na cidade de Monte Carmelo/MG. De berço católico, desde a tenra idade Argentina foi conduzida de forma a se tornar uma pessoa bastante religiosa. Tanto que, na mocidade, Argentina – ou simplesmente Tina, como passaria a ser conhecida – chegou a estudar em um educandário administrado por freiras, em regime de internato, na companhia de sua irmã Alzira. Em 1939, Tina se mudaria com seus pais para a cidade de Uberaba, mas lá não residiu mais do que um ano. Seu pai, Álvaro, à época bancário do Banco de Crédito Real de Minas Gerais (CREDIREAL), constantemente se via obrigado a migrar para cidades do interior mineiro, por força de demandas profissionais. Dessa maneira, durante sua infância e mocidade, Tina havia estabelecido residência em vários municípios de Minas Gerais, valendo citar as cidades de Sacramento, Araxá e Goiânia/GO.
Tina se casou em 1963, e passou a residir na pequena cidade de Itauçu/GO, a setenta quilômetros da capital Goiânia. Tudo indicava que, a partir daí, o seu futuro se consolidaria em torno de uma rotina típica para a maioria das esposas daquela época. Mas quis o destino que essa relação amorosa não florescesse além de noventa dias. Mal havia vivido sua historia de amor, Tina amargurava a condição de viúva, após a morte que repentinamente acometeu seu esposo, devido a uma cardiopatia decorrente do Mal de Chagas.
 |
| Tina e sua filha Andréa: consolo divinal para um luto doloroso. |
Fortemente abalada pela perda de seu amado, Tina passa a buscar na religiosidade um alento para a sua dor. Paradoxalmente, esse sentimento angustiante era amenizado pela sua gravidez – o último e sublime presente deixado por seu esposo, antes do desencarne. Aos 28 anos, Tina desembarca em Belo Horizonte na companhia de seus pais, e na capital mineira passa a labutar por um posicionamento profissional. Decidida a não se envolver em relacionamentos amorosos, se concentra exclusivamente na educação de sua filha Andréa, e encontra amparo espiritual na Doutrina Espírita. Por alguns anos, freqüentou a União Espírita Mineira, situada à Rua dos Guaranis, bem próxima à residência de sua mãe – Oni Nardy Oliveira. Em 1973, passa a freqüentar o corpo mediúnico da União da Mocidade Espírita Antônio Loreto Flores, e neste lugar conhece a Umbanda – doutrina que para sempre lhe despertaria enorme afeição. Pouco tempo depois, ainda na década de 70, por obra do “acaso” Tina conhece Marilene Soares de Moura, a Mãe Marilene. A partir desse encontro, a história da TUEDLUZ começaria a germinar...
 |
| Mãe Marilene e corpo de médiuns masculinos da TUEPAJ. Belo Horizonte, 1976 |
Mãe Marilene conduzia a TUEPAJ – Tenda de Umbanda Esotérica Pai Joaquim de Angola, localizada na Avenida Silviano Brandão, e para tal tarefa havia recebido fundamentos de Umbanda Esotérica das mãos de Woodrow Wilson da Matta e Silva, o insigne Pai da Matta. O terreiro de Mãe Marilene era pequeno em medidas físicas, mas gigantesco em amplitude espiritual. Em contato com a Umbanda Esotérica, Tina descobre o rumo definitivo de sua jornada enquanto médium: se tornar fiel prosélita da Raiz de Guiné – o sistema de culto preconizado por Pai da Matta a partir da década de 1950, através das revelações trazidas por seu Mentor Espiritual, um Preto-Velho que se apresentava como Pai Guiné. Como trabalhadora da TUEPAJ, Tina se dedica à Iniciação doutrinária na Umbanda Esotérica, e em 1978 é ordenada sacerdotisa por Mãe Marilene, ocasião em que passou a ser conhecida como “Mãe Tina”. Pouco depois desse evento, no segundo semestre de 1979, Mãe Marilene resolve partir para os Estados Unidos, onde fixaria residência, e transmite ordens e direitos de trabalho para Mãe Tina, no sentido de que esta pudesse fundar seu próprio agrupamento de Umbanda Esotérica, e levar adiante a sua devoção pela Raiz de Guiné.
 |
| Mãe Tina e os pioneiros do corpo mediúnico da TUEDLUZ, em setembro de 1981. |
Em 1981, a TUEDLUZ é fundada. Pouco antes desse “nascimento”, Mãe Tina e sua filha Andréa já efetuavam reuniões sob a liturgia seguida na extinta TUEPAJ, em casa ou na residência de amigos. Dessa forma, uma confraria já estava se formando, e o primeiro endereço físico da TUEDLUZ acabou sendo a Rua dos Guaranis, onde Mãe Tina morava. Pouco tempo depois, um barracão ainda por terminar foi alugado, na rua São Lourenço nº. 163, bairro Ressaca – Contagem/MG. Um contrato foi firmado em regime de comodato, e incluía o custeio da finalização da construção do imóvel, por parte da TUEDLUZ. Após cinco anos de usufruto das instalações, a proprietária solicitou o imóvel, fato este que constituiria o primeiro grande desafio para o terreiro de Mãe Tina. A TUEDLUZ já era conhecida na região onde prestava assistência – social e espiritual – e contava com um patrimônio mobiliário de custosa movimentação. Sem alternativas para resolver o impasse, o imóvel foi desocupado, e os atendimentos passaram a ocorrer improvisadamente, na garagem da casa de Mãe Tina – agora residente em Contagem. Sob o beneplácito do Astral Superior, em pouco tempo a TUEDLUZ receberia uma proposta para ocupação de um galpão situado à Rua São Francisco, no bairro Serrano. Inicialmente, o templo funcionaria por um ano neste endereço, mas o proprietário, generosamente, acabou permitindo que a TUEDLUZ existisse por vinte meses naquele logradouro. Em 1986, veio o segundo e mais gravoso desafio: novamente sem local apropriado para funcionamento, Mãe Tina quase decreta o fim da TUEDLUZ. Em um dia de muita aflição, eis que os Orixás mais uma vez abençoam seu destino: Mãe Tina recebe a visita de um conhecido, que lhe faz a seguinte oferta: a TUEDLUZ adquiriria um terreno situado à Rua Quitandinha, no bairro Serrano, sob um regime flexível de quitação do imóvel, pago através de parcelas mensais. Com esse enorme gesto de solidariedade e generosidade, a TUEDLUZ finalmente poderia lançar seus alicerces físicos de maneira definitiva, e prosseguir na tarefa de praticar a Umbanda sob a luz do Evangelho Cristão.
 |
| Mãe Tina e médiuns da TUEDLUZ durante a construção da sede própria. Maio de 1988. |
O terceiro grande desafio da TUEDLUZ surgiu a partir do momento em que o lote na Rua Quitandinha foi adquirido. Além das despesas com a quitação do terreno, Mãe Tina também precisou mobilizar colaboradores para que tijolos, telhas, areia e cimento fossem captados para a construção da sede. Prece, suor e dedicação não faltaram à época, para que corações generosos fossem sensibilizados em nossa causa. Graças a Deus e aos Orixás, doações em material de construção começaram a chegar ao lote adquirido em quantidade cada vez maior, e sob a força exclusiva do trabalho técnico e braçal de simpatizantes e integrantes da TUEDLUZ – incluindo Mãe Tina e sua filha Andréa – a sede da Tenda de Umbanda Esotérica Divina Luz é erguida e inaugurada em 18 de setembro de 1988.
Mesmo após a inauguração de sua sede própria, os desafios da TUEDLUZ não diminuíram, mas, graças à intervenção divina, deixaram de pôr em risco a existência e a longevidade da Instituição. Satisfeita a necessidade primordial de se ter um espaço digno para funcionamento, a Casa passou a investir em uma série de reformas e ampliações, que sempre tinham em foco a ergonomia e o conforto para membros e freqüentadores. Em 1991, foi construído um ambulatório médico, à frente do templo. Por mais de um ano foram viabilizados atendimentos médicos gratuitos, com a presença de especialistas como clínico geral, pediatra, dentre outros. Também havia distribuição de remédios, e as atividades eram coordenadas pelo Dr. Luiz Roberto Pena de Oliveira. Infelizmente, esse foi um projeto que não pôde se estender por muito tempo, pois os profissionais envolvidos nessa tarefa assistencial passaram a assumir maiores responsabilidades em suas áreas de atuação, o que comprometeu a disponibilidade de tempo para o atendimento gratuito, na TUEDLUZ. Foi um revés doloroso para Mãe Tina, que sempre cultivou a filantropia em estreita conexão com seus ideais religiosos. A TUEDLUZ foi concebida como um templo de Umbanda, mas também havia a TUEDLUZ que funcionava como uma instituição filantrópica, e que deveria desenvolver ações de assistência social com a maior periodicidade e intensidade possíveis.
 |
| Festa de Natal do Menor Carente TUEDLUZ: graças à mobilização de colaboradores, tornou-se tradição! |
Para suprir o custo de suas tarefas assistenciais, bem como as despesas de manutenção do templo, Mãe Tina resolveu envolver a TUEDLUZ na execução de uma série de eventos beneficentes, que passariam a compor o calendário anual de realizações da Casa: feijoadas, bingos, festas juninas, e muitas outras “criações”. Algumas doações vieram em dinheiro, outras em produtos. Desde caminhões de areia até comes e bebes, tudo era revertido para o mantenimento de um patrimônio exclusivamente construído em torno do trabalho caritativo, despretensioso e sincero, da mesma forma como foi exortado por Jesus Cristo.
A partir de 1995, houve condições para que uma ampliação fosse levada à cabo, e Mãe Tina pôde sonhar com a construção de um segundo pavimento na TUEDLUZ, que serviria como ambiente para recreação, festividades e a realização de projetos assistenciais. Nessa época, a Casa contava com um corpo de trabalhos composto por cerca de cinqüenta médiuns, e também se preparava para revigorar suas dependências térreas. Um novo Gongá (templo) foi planejado, mais espaçoso e acolhedor.
 |
| Vista do novo templo público da TUEDLUZ. Abril de 1996. |
Em 1996, ocorre a reinauguração do pavimento térreo da TUEDLUZ, e este evento coincide com a comemoração dos 15 anos de existência da Casa. Dois anos depois, o segundo pavimento seria inaugurado, e uma festa é organizada para celebrar os 60 anos de idade de Mãe Tina. A partir de então, a Casa mantém praticamente o mesmo porte e dependências, e preserva o objetivo primordial das expansões que sofreu: garantir o dinamismo e a organização da nossa prestação de serviços, bem como garantir o conforto a todos os nossos freqüentadores, seja em reuniões religiosas, seja em eventos recreativos e assistenciais.
Aos sessenta e sete anos, Mãe Tina é chamada ao outro lado da vida. Em 2005, acometida por males físicos decorrentes do Diabetes, a saudosa “Senhora da TUEDLUZ” deixa sua filha de sangue e seus filhos de Santé em luto profundo; que apesar de anunciado previamente pelos Mentores Espirituais, não dirimiu a comoção por tamanha perda. Depois de um interstício de sessenta dias, a TUEDLUZ é reaberta, e Mãe Andréa assume a condução da Instituição, uma vez que já havia sido devidamente preparada por sua genitora.
Mãe Andréa
(Senhora Daalacosã)
