MEUS PROBLEMAS x MINHA AUTOCRÍTICA:
Porque as Entidades da Umbanda não resolvem o meu caso?
Entra ano, sai ano, e a experiência que vamos adquirindo enquanto praticantes da Umbanda nos permite constatar que a maior parte dos problemas que são levados aos nossos templos continua inalterada. Os maridos ainda precisam ser “amarrados”, os filhos estão cada vez mais rebeldes, o dinheiro é cada vez mais insuficiente para pagar as contas, e dúzias de encostos permanecem assombrando pobres almas inocentes. Será que os Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças não estão dando conta do recado? Já não se fazem mais Exus como antigamente? Ou será que estamos diante de uma massa de “fieis” cada vez mais omissa às suas próprias obrigações éticas, sociais e familiares?
Há mais de século, os Mentores Espirituais que acorrem aos nossos templos nos alertam para a necessidade de decompormos o cerne de nossos problemas sob a luz da autocrítica. Pois muitos obstáculos adquirem ares de insolubilidade pelo fato de não admitirmos que eles florescem à revelia de uma análise centrada naquilo que NÓS poderíamos ter feito para resolvê-los. Bom seria se levássemos à presença de uma Entidade mediunicamente manifestada apenas dúvidas relacionadas às nossas próprias fraquezas, ou, quem sabe, desabafos que não estivessem tão camuflados pela negação em admitir nossas falhas. Entretanto, o panorama é desalentador, pois décadas transcorrem e continuamos com a confortável sensação de poder terceirizar a causa íntima de nossos tormentos. E haja vela e magia para que tanta crise seja resolvida!
Outro problema comumente trazido aos Gongás da Umbanda reflete a dificuldade que temos em educar nossos descendentes. Mais uma vez, obliteramos nossa parcela de culpa, que na maioria dos casos é ilustrada pelo binômio filhos rebeldes = pais complicados, e defendemos que a insubordinação de um filho está exclusivamente atrelada a “influências espirituais”. Tudo acaba sendo jogado “na conta” de espíritos obsessores, quando, na verdade, salta aos olhos a evidência de uma educação defeituosa, eivada de mimos exagerados, superproteção, negligência e/ou indisciplina. Resta às Entidades de Umbanda a tarefa de consertar essa situação? Obviamente que não!
Por último, mas não menos recrudescente, flutua o imbróglio dos “encostos” – esses capetinhas danados que sempre fecham os nossos caminhos e perturbam gratuitamente o sucesso da nossa inocente jornada terrena. Por muitas vezes, nós os responsabilizamos por outros problemas já comentados: falta de dinheiro, namorado, ou a rebeldia de filhos, parentes e amigos. Na contrapartida dessa rotulação endêmica, já ouvi um Exu assertivar que os casos de obsessão clássica – aqueles que eram comuns há cinqüenta anos atrás, de um desencarnado perturbado sobre um encarnado incauto – são cada vez mais raros de serem observados. Isso porque NÓS estamos assumindo a dianteira nessa questão, ou melhor, estamos abrindo nossas portas mentoastrais para que obsessões e obsessores possam nos dominar. O convite está partindo de nossas mentes “inocentes”, frágeis a ponto de culpabilizar o “Reino das Trevas” pelo MEU alcoolismo, ou de acusar uma alma penada pela MINHA tendência ao sensualismo exacerbado. Problemas de caráter? Não os tenho! São os meus “encostos” que colocam esses espinhos em minha personalidade! Vamos nos enganando, na medida em que enormes falanges de assediadores “astrais” vão crescendo em nossas cabeças auto-obsedadas!
Enfim, enquanto não soubermos mensurar a nossa parcela de culpa nessas situações que levamos ao conhecimento de Entidades mediunicamente manifestadas, estaremos fadados a sair de um Terreiro de Umbanda sem perspectiva de resolução para os nossos problemas. Nenhuma “magia” pode quebrar aquilo que nasce do nosso livre-arbítrio e floresce em nossa resoluta vontade de agir egoisticamente. Ainda assim, abnegados Pretos-Velhos, Caboclos e Erês estão sempre a nos indicar a solução: o caminho do autoconhecimento como fonte única de libertação plena. Caminho de difícil persecução, pois desafia a todo instante a vaidade e o comodismo que cultivamos. Mas caminho essencial para que tenhamos condições de empreender a tão falada Reforma Íntima, e sorver plenamente todo o poder dessa assistência espiritual trazida pelo Evangelho Cristão, redivivo no Astral de Umbanda.
Lembre-se: se a sua autocrítica é menor do que seus problemas, seus problemas certamente são bem maiores do que você pensa!
Luciano Martins Leite
membro da TUEDLUZ
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