quinta-feira, 19 de abril de 2012

AH, EU RECOMENDO!

HOMENS INVISÍVEIS: RELATOS DE UMA HUMILHAÇÃO SOCIAL

Uma vez por semana, Fernando Braga da Costa veste uniforme e vai varrer ruas. Carrega esterco, limpa fossas, trabalha debaixo de chuva ou sol. Por causa disso, desenvolveu tendinite nos antebraços. A rotina começou há 10 anos, com um trabalho de Psicologia Social, disciplina que cursava na USP e que propunha aos alunos assumirem uma profissão reservada às classes pobres durante um dia. Fernando escolheu ser gari na própria universidade. As descobertas o levaram a estudar profundamente a relação da sociedade com esses trabalhadores, o que resultou no livro Homens Invisíveis – Relatos de uma Humilhação Social (Globo, 256 páginas).

“Como gari, senti na pele o que é um trabalho degradante. Vivi situações que me impulsionaram a entender melhor o nosso meio psicossocial”, explica ele, que desenvolveu a tese sobre a “invisibilidade pública”, isto é, profissionais como faxineiros, ascensoristas, empacotadores e garis não são “vistos” pela sociedade, que enxerga a função, não a pessoa. Uma das situações experimentadas por Fernando foi atravessar os corredores da faculdade uniformizado. Ninguém nem sequer olhou para ele ou o cumprimentou. “A invisibilidade e a humilhação repercutem até na maneira como você anda, fala, olha. Eles não conseguem nos olhar de frente e, quando olham, piscam rapidamente. O modo de andar lembra movimentos de robô”, conta ele. O objetivo não é só conquistar condições melhores para os varredores. “É preciso reinventar a divisão de trabalho para que não exista uma pessoa responsável por limpar nossa sujeira. Se não, não conheceremos democracia de verdade ou uma sociedade de iguais. O trabalho de gari parece natural hoje como a escravidão era há 300 anos.”


Homens Invisíveis - Relatos de uma Humilhação Social

Fernando Braga da Costa
256 páginas, Editora Globo
R$ 40 (em média, sem frete)


Fonte da resenha: Marina Monzillo - ISTOÉ Gente

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