sexta-feira, 17 de junho de 2011

CRÔNICAS DE TERREIRO

O fim do etnocentrismo como fonte de evolução espiritual: a razão de ser da forma de apresentação dos Espíritos na Umbanda.


Como podemos observar em qualquer estudo historiográfico sobre o nosso país, o Brasil colonial foi o Brasil da escravidão. Período pelo qual vigorou um intenso conflito étnico, cultural, e, conseguintemente, astral. Com o advento da Escravidão, existia a crença generalizada, por parte dos dominadores brancos, de que o índio e o negro “não possuíam alma”, algo que, aliado à falta de tradição esotérica desses colonizadores, propiciou um estado de coisas que culminou na emersão, dos confins do Reino das Sombras – sob impulso do ódio de uma das partes e da maldade da outra, e do sangue derramado pelos dois lados – de uma “Corrente Maléfica”, que atraiu os piores Magos Negros de todas as épocas, e formou, alinhada a um ponto comum de perversidade das raças martirizadas, um violento sistema de oferendas e rituais, conhecido como “KIMBANDA”.

Para auxiliar essas coletividades que entraram em conflito humano e astral, e não permitir que o Baixo Astral desencadeasse um extenso processo de comutações kármicas inferiores, a Misericórdia Divina ordenou a intervenção de um Conjunto de Leis para essas faixas vibratórias, e suas interligações dolorosas e cruéis. Este Conjunto de Leis Divinas deveria ser aplicado por Entidades de destacada evolução espiritual e influência moral sobre as três raças em conflito, a saber: os sábios e antiqüíssimos “PAYÉS” da raça vermelha, os severos mas bondosos “BABAL’AWÔ” da raça negra, e os grandes “SACERDOTES” da raça branca.

Pouco a pouco, esses Espíritos Superiores passaram a apresentar-se como “Pretos-Velhos” nos Candomblés de Nação, como “Caboclos” nas Pajelanças e Catimbós, e como “Padres”, “Hindus” e “Crianças” nas Reuniões Espiritualistas dos brancos. Apesar de influírem em grupamentos religiosos distintos, muitas vezes antagônicos, suas palavras eram sempre de HUMILDADE, SIMPLICIDADE e PERDÃO. Não por acaso, as manifestações dessas Entidades concentravam-se em pontos doutrinários convergentes, e apontavam para a necessidade de uma renovação de conduta, sempre apoiada no autêntico Evangelho Cristão - há muito esquecido pela humanidade.

Respeitando a diversidade de línguas e culturas envolvidas nessa complexa missão de saneamento espiritual, a palavra “UMBANDA” se estabeleceu definitivamente ao início do Século XX, quando, em uma seção espírita, uma Entidade em roupagem astral de Caboclo, utilizando-se da mediunidade de um jovem comum, de nome Zélio Fernandino de Moraes, anunciou o aporte, de forma sistematizada e definitiva, de uma religião que se serviria do ecletismo étnico; de uma mistura cultural que promoveria a paz entre as três raças em conflito na Terra de Pindorama, o nosso Brasil. A partir daí, a Umbanda iniciou um movimento de expansão e afirmação em todo o território brasileiro, enfrentando preconceitos e repressão policial, enquanto defraudava sua bandeira de conciliação, perdão e ajuda ao próximo. 

Atuando sob identidade religiosa própria, a Umbanda passou a reunir, em seus “terreiros”, a presença, lado a lado, dos “Pretos-Velhos”, “Caboclos” e “Crianças”. Não tardou para que, além do aspecto de alteridade étnica e cultural, a Umbanda também ficasse conhecida como a “religião dos humildes”, pois a maior parte de seus adeptos pertenciam a classes sociais menos favorecidas.

Hoje, já ao limiar do Século XXI, a Umbanda recolhe positivos resultados na conciliação entre aqueles que outrora protagonizaram lamentáveis episódios de ódio e segregação raciais. Nos tantos terreiros espalhados pelo Brasil, e até mesmo no exterior (Portugal começa a se revelar como país praticante da Umbanda, e este fato expõe o curso natural do movimento de saneamento kármico entre coletividades que protagonizaram conflitos étnicos no período colonial), as três raças (vermelha, negra e branca) se apresentam, mediunicamente, de forma a assertivar que o Evangelho do Cristo Jesus não prefere pátria, cor da pele ou posição social. Em um terreiro de Umbanda podemos assistir, seja pela corrente astral, seja pela corrente encarnada, a um negro socorrendo um branco, a um índio prestando caridade a um negro, ou a uma “criança” branca soerguer o moral de um descendente das poderosas tribos que, séculos atrás, eram as únicas nativas do solo brasileiro.

A Umbanda, através das formas de apresentação de seus mensageiros espirituais, infunde a mensagem da fraternidade universal, a união através da diversidade, o perdão mediante a compreensão de que somos uma só coletividade, uma só “etnia astral”, a procura de redenção neste magnífico planeta em evolução!

Luciano Martins Leite
membro da TUEDLUZ


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- COSTA, Ivan Horácio (Itaoman). Pemba – A grafia sagrada dos Orixás. 1 ed. Brasília: 1990.

- SILVA, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda de Todos Nós. 1 ed. Rio de Janeiro: Esperanto, 1956.

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